Entrevista com o pixador Cripta Djan

 

Cripta Djan - Paris na Fundação Cartier

Qual seu nome?
Djan Ivson

Qual sua idade?
25 anos

Qual sua cidade/estado?
Osasco zona oeste de Sampa

O que você assina?
Eu assino Djan e faço parte da família Cripta.

Desde que ano você assinou na rua?
Entrei para a família Cripta em 1997, mas comecei a pixar em 1996.

Que motivo o fez buscar a pichação?
Dez de mlk já gostava de aventura, a pixação foi a opção de se aventurar pela cidade mais emocionante que encontrei.

Que picos você mais gostava de pegar?
Eu gostava muito de escalar janelas e prédios todos por fora.

Trilha sonora inspiradora?
O Rap sempre foi minha fonte de inspiração.

Filme inspirador?
Perigo para sociedade – Até as ultimas conseqüências.

Reuniões entre pixadores, têm importância? Qual?
Os points servem para reunir os pixadores, marcar roles testar a popularidade, fazer aliados, divulgar festas, sem essas reuniões o movimento não estaria tão integrado.

Você acredita que existem barreiras atualmente entre as “modalidades” de arte de rua? o que na sua opinião impõe essas limitações?
Existe sim, principalmente quando aparece um grafiteiro falando que era pixador, ai parece que o grafite é um caminho de evolução para um pixador, então pixador é visto como o lado negro e o inimigo da ordem e da beleza, e o grafiteiro como o moçinho que limpa a sujeira que os pixadores supostamente deixam.

Você acha que hoje em dia existe união de pixadores entre si? E pixadores e graffiteiros, por exemplo?
A união entre pixadores existe, mas ainda a muita vaidade que atrapalha para que essa união seja maior. Em relação a Graffiteiros e Pixadores, existe amizade entre alguns, mas união ainda esta longe.

Como você conseguiu distinguir sua vida profissional, afetiva, etc., com a vida que a arte da rua te exigiu?
Na realidade minha vida é uma só, o fato de a minha família toda saber e aceitar que sou pixador facilitaram muito isso, por isso não tenho problema nenhum em ser chamado de PIXADOR em qualquer ambiente que eu freqüento.

O que você acha que um bom artista de rua precisa ter, para ser bem sucedido em seu meio?
Coragem, respeito e humildade.

Desde que você começou, até agora, o que mais mudou e o que continua na arte de rua?
Acho que em relação a pixação ouve uma evolução muito grande, os pixadores estão cada vez mais unidos,o movimento todo ano esta evoluindo, e ele continua mantendo sua essência que é a ilegalidade. Já o Graffiti perdeu o rumo se rendeu ao sistema e perdeu o espírito marginal, o problema não foi o graffiti entrar nas galerias, o problema foi quando os graffiteiros começaram a pintar na rua por dinheiro, e a apagar trabalhos de outros artistas e principalmente a pixação.

Cripta Djan - Folha de São Paulo 2004

Qual época você mais curtiu dar roles? Por quê?
A época que mais curti foi em quanto eu era menor de idade, porque não tinha compromissos nem responsabilidades, ja com 18 anos me tornei pai e as coisas mudaram, agora não sou mais sozinho, tem alguém que depende de min.

Em sua opinião, qual é o maior castigo pra um pichador?
Acho que o maior castigo para um pixador é quando não podemos mais pixar por causa de problemas com a justiça, por mais que você esteja solto, você se sente preço, já passei por isso, inclusive foi um dos motivos pelos qual parei, mas graças a Deus já estou livre, e quem sabe até pronto para voltar.

Já foi pego? Como?
Já sim, varias vezes, conheço todos os corros de todas delegacias do centro de São Paulo, já assinei vários processos, recolhi lixo de celas, faxinas em delegacias, ou banho de tinta, surras, tapas na cara e ia por diante.

Qual o pior erro para um pichador?
O pior erro de um pixador é atropelar sem motivo algum o pixo de outro pixador.

Arrepende-se de ter sido um pichador? Por quê?
Não me arrependo, pelo contrario, se eu não fosse pixador com certeza não teria feita tantas amizades, vivido tantas aventuras, e com certeza não teria nada de interessante para contar para meus futuros netos.

O quê a pichação te deu?
A pixação me deu conhecimento das ruas, confiança em min mesmo, amigos, inimigos, respeito, admiração e humildade.

O que a pichação te tirou?
A pixação me tirou da escola, do esporte e me troce problemas com a justiça.

Você realmente parou? Por quê?
Na realidade não, parei de pixar mas continuei nas ruas e nos roles de pixo, filmando e documentando nosso movimento, que estava passando em branco sem nenhuma forma de registro, cheguei até assinar processo em quanto filmava, subi em prédios e picos, na real troquei a lata e o rolo pela câmera.

Conte-nos… Como fluiu a idéia de começar a produzir filmes de pichação?
Justamente quando senti que nosso movimento estava passando em branco, não avia nenhuma forma de registro, nem revista, nem vídeos, eu sentia necessidade de ver alguma coisa só sobre pixação, e tinha que ser produzido por nos mesmos, estava cansado de ter que se contentar com uma foto só em revistas de graffiti ou em recorte de jornais.

Cripta Djan - Paris na Fundação Cartier

Como foi essa parada de ir pra França para expor a estética do pixo? Pode nos contar detalhes dessa viagem tão importante para a pichação brasileira?
Sem duvida nenhuma foi uma grande conquista para a pixação brasileira, finalmente um pixador estava representando seu movimento, e não um impostor se apropriando da nossa estética como andava acontecendo, acho que agora é a vez do pixador ser valorizado, e pelo que somos de verdade, não foi por que pintamos bonitinho autorizado ou coloridinho, não, foi justamente por sermos realmente o que somos, vândalos, marginais, selvagens, protestantes rebeldes, a tribo dos guerreiros escribas underground, predominante e crescente na bolsa amniótica da periferia. Sem contar que a exposição “Nascido nas ruas” era uma retrospectiva mundial da historia da arte de rua, e a fundação Cartier reconheceu a importância da pixação, coisa que dificilmente vai acontecer em nosso pais, porque ainda somos colônia, mas não precisamos mudar nada para que gostem de nos, se alguém quiser gostar, que goste pelo que somos.
As grandes épocas de nossas vidas são aquelas em que temos coragem de considerar o que é mau em nós como aquilo que temos de melhor. (Nietzsche)

O que você acha que mudou para a arte de rua (em especial a pichação, claro) depois desta exposição?
Acho que na pixação não mudou nem vai mudar nada, apenas agora ninguém mais vai ter que fazer a ponte para chegar em nos, e nenhum impostor vai poder mais se apropriar da nossa estica e se passar por ex pixador ou pixador.

Quais, em sua opinião, foram às opiniões conclusivas dos gringos, em relação à pichação, e a arte urbana como um todo?
Os reportes de toda Europa que me entrevistaram, não sabiam o que era a pixação, eles perguntavam se era uma espécie de graffiti ou tag, e expliquei a todos que a palavra pixação e pixador, não tinha tradução e que era um movimento único do Brasil, que não teve influencia de nenhum outro pais, agora sim o mundo vai começar a descobrir o que realmente é a pixação.

Chegou a dar uma olhada na cena da gringa? Se sim, o que achou?
Cheguei a ver bastante bombs nos guetos de paris, mas no centro a cena é bem fraca, dificilmente se via alguma coisa, foi uma pena que só fiquei 5 dias, se um pixador ficar em paris por um mês fará um estrago muito grande, e com muita facilidade.. (risos)

O que você diria para os que estão começando agora?
Pra todos que estão começando, muita coragem para encarar as ruas, não se iludir com 20 ou 30 fotos no fotolog, orkut, flicker, encare as ruas de frente, e não adianta fica com medo de acinar processo, apanhar, tomar banho de tinta, quem pinta na rua de verdade sabe o que é isso, só os verdadeiros, não pense que vai ser fácil não.

Deixe um recado pra quem estiver lendo sua entrevista, se identificando ou não com a sua arte…
Não adiante dizer que é protestante e não protestar, dizer que é inimigo publico e só pixar parede particular, dizer que é anarquista e nem saber o significado do anarquismo, sei que a PIXAÇÃO é uma opção de lazer para muitos, mas o PIXO também pode e deve ser usado como instrumento de revolução, então vão se politizar e não só pixar por vaidade.


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