Entrevista com o grafiteiro Evol
Qual sua idade?
Denys, 25 anos, nascido em São Paulo.
Qual sua cidade/estado?
São Paulo capital
O que você assina?
EVOL
Por que você resolveu colocar esse nome?
O nome vaio partindo da idéia que:
Evolução = Destruição
toda evolução causa destruição, tudo que cria destrói algo.
Assina em crew? Qual e o que significa?
Gangues:
D.E.M. (destruição Em Massa)
D.V.E.S (De Vagar E Sempre)
B.M. (Bomber Man)
Desde que ano você assina na rua?
Comecei em 1998, mas parei em 2000 e retornei só em 2006 com o nome EVOL.
Que motivo o fez buscar o grafite?
Meu pai é desenhista, Sempre desenhei. Por influencia do skate, acabei me encontrando com uma revista de grafite em uma loja da galeria do rock, a “FIZ”, algum tempo depois, encontrei amigos que sabiam menos que eu, e nos arriscamos na rua, sem saber nada sobre as latas e sem conhecer ninguém.
Acredito que o grafite me buscou, eu até me afastei, mas ele me capturou de novo.
Agora eu não consigo me ver sem desenhar nas paredes.
Que picos você mais gosta de pegar e, o que mais gosta de fazer na rua?
Não tem tempo ruim pinto em qualquer lugar, mais gosto de encontrar brechas na cena urbana, onde o grafite se encaixa.
Gosto de pintar becos e vielas… Com um trampo mais na calma, lugares onde combine com o ambiente…
Onde não pode, o esquema é deixar uma marca chamativa, na rápida e sumir.
Como você descreve seu estilo, e a evolução de seu trabalho, em volta ao caos da cidade?
No meu grafite estilo e a evolução são sinônimos, daí o nome.
Pra mim a letra é um estudo sem fim. Estando na ativa, ela vai mudando e cada vez ficando mais original.
Eu tento buscar um estilo único, e gosto de misturar com o Old school, e tento fazer isso interagir com a poluição e o ambiente conturbado do dia-a-dia da metrópole.
O que um bomb representa para você, e para o mundo do graffiti como um todo…?
Pra mim é o puro grafite da forma mais espontânea.
Acho que criar é quebrar a mesmice do cotidiano.
E o grafite é isso violar as barreiras unicamente com o intuito de deixar tua marca ali.
E esse grafite é o bomb. O bomb é isso, não importa se é como o “NEGUINHO Z/O” ou “Os Gemeos” é mais uma atitude do que uma estética.
O que lhe é mais satisfatório em todo o processo de desenvolvimento de seus trabalhos?
É exatamente a hora de pegar a lata de spray, essa hora geralmente estou acompanhado de amigos e cerveja.
Chegou em um momento de sua caminhada, em que devido aos problemas do cotidiano e/ou até mesmo os problemas encontrados por artistas de rua, lhe fizeram se questionar “Será que devo seguir? Aonde vou parar…?” Se sim, o que o fez pensar positivamente?
Tive dois processos acusado (e culpado) de “crime ambiental”.
Não sei explicar direito mas, a única coisa que isso me fez pensar foi em fazer mais e mais e mais…
Como foi pego, e como foi a punição de acordo com as leis de sua cidade?
Depois de fazer muitas coisas “erradas” por aí fui pego no meu bairro pintando uma casa demolida, por causa de uma denúncia.
Os policiais nem sabiam o que fazer quando chegaram. A outra depois de um bomb na Av. Angélica, com meus amigos Agon, Risada e Syke.
Descemos pra av. Amaral Gurgel. Encontramos um desconhecido pintando o viaduto, era um francês “Ikone”, depois de nos conhecermos ele chamou pra pintarmos do lado. Dez minutos depois chegaram as viaturas e assinamos outro B.O.
Fui pro fórum com o Risada (Smile) e o B.O. do francês hoje é está emoldurado na parede da casa dele em Paris.
Estou aguardando pra cumprir 40 horas de Serviço comunitário e assinar mensalmente no Fórum da barra Funda durante 24 meses. Vamos fazer uma corrente de energia positiva pra que essas penas precisem ser cumpridas.mande para mais 7 amigos…
Trilha sonora inspiradora?
Não sei se talvez porque no “meu” começo o som era esse, mais acho que RAP sempre foi a trilha do grafite, apesar te ter gente que não concorda.
Na hora do Bomb escuto um “Rage against the machine” que mistura perfeitamente os dois som que mais gosto.
Você acredita que existem barreiras atualmente entre as “modalidades” de arte de rua, de artista para artista? o que na sua opinião impõe essas limitações?
Acho que as barreiras só são impostas pelos próprios grafiteiros. Um tá a fim de ir pra galeria outro só quer a rua. Um quer viver e ganhar dinheiro com o grafite, o outro acha errado. Cada grafiteiro tem uma opinião. Mais quem quer se promover consegue independente da qualidade do trampo.
Você acha que hoje em dia existe união de grafiteiros entre si? E pixadores e grafiteiros por exemplo?
Os grafiteiros estão muito unidos. Diferente do meu inicio hoje ninguém tem dificuldade em encontrar um parceiro pro role.
Falou de encontro, o muro fica pequeno. Talvez pela quantidade de grafiteiro que tem aparecido. Quanto ao pixo a maioria das vezes róla um respeito. Na rua a lei é ninguém atropela ninguém, no boca a boca as vezes tem umas alfinetadas mais geralmente é contra o grafite em troca de dinheiro.
Você trabalha? Em quê?
Sou Designer Gráfico. Foi minha forma de juntar o desenho e o trabalho.
Como você conseguiu distinguir sua vida profissional, afetiva, etc, com a vida que o grafite te exige?
Na verdade as coisas sempre aconteceram ao mesmo tempo, eu trampava, estudava, namorava, tocava com minha banda todo fim de semana e ainda grafitava.
É o ritmo de São Paulo. E tem gente que não pinta porque fala “to trampando pra caramba”, ou acha que namora e não dá… Quem tá na pegada tá…
(Pros que tão pensando “essa foi pra mim”… foi pra vocês mesmo..hahaha)
O que você acha que um grafiteiro precisa ter, para ser bem sucedido em seu meio?
Apetite, disposição e vontade. E tinta. Às vezes não tenho.
Desde que você começou, até agora, o que mais mudou e o que continua na arte de rua?
A tecnologia. Tanto da internet, quanto no material.
Encontrar o grafite e os grafiteiros é bem mais fácil.
O material está facilitando cada vez mais a vida do grafiteiro.
Qual época você mais curtiu dar roles? Porque?
Gostei de começar na época de um grafite mais ingênuo, quando tudo o que eu tinha era vontade de fazer um desenho no muro, látex rolo e duas latas de colorgin automotiva.
Hoje eu tenho contato com todos os grafiteiros que eu conhecia só o trampo no muro.
O material que eu uso (às vezes) é o mesmo que o “mundo” todo usa.
Acho que é tudo uma evolução da mesma coisa.
Queira ou não seu trampo vai estar no mundo virtual, ninguém pode impedir.
Se a cabeça da população muda, muda o impacto que seu trampo causa.
Na sua opinião, qual é o maior castigo pra um grafiteiro/pichador?
Não ter de onde tirar as tintas. Eu por exemplo, tenho muito mais disposição do que tinta.
Qual o pior erro para um grafiteiro?
Um grafiteiro deixa de ser grafiteiro quando não está nas ruas.
O quê o Grafite te deu?
Muitos amigos.
O que a arte de rua te tirou?
A vergonha na cara… haha
Me deixou um pouco mais cara de pau, pra algumas coisas.
O que você diria para os que estão começando agora?
Ame as ruas da sua cidade, é lá que está o grafite.
E pinte até o dedo cair.
Deixe um recado pra quem estiver lendo sua entrevista, se identificando ou não com a sua arte..
Eu não concordo com as minhas opiniões, não exijo que ninguém concorde com elas.