Entrevista com o Grafiteiro Cena7

Pixacao - São  Bernardo - Cena7

Qual sua idade?
Tenho 24 anos.

Qual sua cidade/estado?
Moro em São Bernardo do Campo – SP – mas me considero cidadão do mundo.

O que você assina?
Cena7

Por que você resolveu colocar esse nome?
O nome surgiu de um amigo num momento em que eu só queria um nome-motivo pra ir pra rua fazer algo… Diz ele que por curtir rap, pensou em “acena” ou “acenadoloko”
E acabou por cena rimar com sete na concepção dele e assim ficou… Cena7, depois de uma semana esse amigo parou e eu continuei ate os dias hoje, sempre pra frente.

Assina em crew? Qual e o que significa?
Assino uma, POVO que no esquema de escrever na rua, assino junto com o Emol – https://www.flickr.com/photos/emerson-emol
O intuito Dela é de coletivo – pessoas que se unem pra produzir coisas que envolvam arte, cultura, entretenimento, diversidade, união… POVO é nois tudo.
A palavra também carrega consigo um duplo sentido. Ao mesmo tempo em que quer dizer grupo de pessoas é também a sigla para Pessoas Organizadas Vencem Opressão.
Mais aqui – https://povo-povo.blogspot.com/

Desde que ano você está envolvido com arte urbana?
O ano que tomei a decisão de começar a escrever o nome Cena7 foi em 2000.

Que motivo o fez buscar o graffiti?
Não sei o motivo ao certo, acredito que as coisas que são verdadeiras para cada um de nos, nos acha no mesmo momento em que as achamos; sempre influenciado por inscrições em paredes que depois descobri chamarem pixaçoes, e de um modo mais universal, graffiti, foi natural, fui, fiz 1, 2, 3… E por ai foi… E ate hoje é – só por hoje.
Que picos você mais gosta de pegar e, o que mais gosta de fazer na rua?
Lugares que o olhar abandona me interessam. Enxergar beleza é algo relativo e para mim tem muito haver com a experiências de mundo que cada um de nos carrega e acumula na vida; gosto de varias modalidades dentro dos graffiti e vou em sentido sempre de criar uma linguagem que vá alem código de escrever o nome com letras; sejas elas retas ou curvas; gosto da idéia de criar um trabalho que seja “para todos”, que dialogue com a cidade de uma maneira inclusiva, isso de certa forma pra mim inda continua sendo meu nome, apenas se torna uma re- significação do estado de escrever na rua, o que para quem vive-estuda a cultura, pode vir a se chamar de pos – graffiti.

Grafiteiro Cena7 em ação!

Como foi o processo de evolução para seu estilo, quais são suas inspirações em seus trabalhos?
Natural, como fazer um bolo, se melhora a cada receita, pelo fato de que se começa a compreender o que se faz, o bolo vira uma extensão da ação em produzi-lo.
São muitas as minhas inspirações, em especial algumas pessoas que passaram e passarão pela minha vida e eu com o maior prazer pela delas; no meu caso, sempre têm aquela mulher… Sempre tem aquela pessoa que agente fica sabendo que existiu e fez tal coisa p’rum bem alem dela também, isso quase sempre me causa ins-Piração.

Fale um pouco das técnicas de arte de rua que mais lhe agradam e se encaixam com o seu estilo de trabalho… (ex: stencil, pichos, tags, bombs, colagens, etc)
Gosto muito de pixo… Posso falar disso porque vivo um pouco esse universo, pra mim é uma modalidade dos graffiti, assim com as outras que tu citaste… É assim que também exercito minha cota de rua por ai.

Aonde e qual foi a oportunidade de trabalho em que mais lhe trouxe satisfação, em que viu que seu trabalho estava realmente sendo reconhecido?
Olha… Tudo é um caminho, tudo são caminhos… Desde o primeiro trampo ao ultimo que fiz e o próximo que inda vou fazer, considero isso, satisfação.

Picho Cena7

Melhor viagem? Pode contar-nos um pouco, como foi?
A vida! Sem duvida, a vida! Posso dizer que ta sendo ótimo, como ainda num acabou… To viajando… rsrs.

Trilha sonora inspiradora?
Varias! Posso citar umas… Racionais MC´s – Parteum – Kamau – Solo Damant – Gonzaguinha – John Coltrane – Teatro Mágico– Miles Davis – Gil Scott Heron – Pharoah Sanders – Elis Regina – Fundo de Quintal – … Dentre outros varias.
O que tem me inspirado muito, é a leitura… Atualmente lendo Milton Santos –
“ Os fundadores: As Pretensões Cientificas “
Pra que se interessa pela historia do mundo em que vive é ótimo, e pra quem não se interessa, é ótimo também… rsrs.
Aqui fica um documentário muito bom, baseado nos estudos do mesmo.
youtube.com/watch?v=58Exmp1_IWM
E sempre que dou uma passada no blog dele é cabuloso.
Sergio Vaz – https://www.colecionadordepedras.blogspot.com/

Filme inspirador?
Spike Lee. (Só pesquisando mesmo).

Diga os nomes de quem mais você admira e se identifica nos roles.
A maioria das pessoas eu não sei o nome, mas são os que estão por ai…
Os que encontro pelos caminhos da vida conduzido pela pintura, pela poesia ou pela Arte que me valida no mundo, que é a Arte dos encontros não marcados; a Arte do entregar pra receber, é ai que tem morado a sensibilidade pra mim, nas relações; e no modo como eu me dou por elas, pra que não me torne o que não desejo, porque eu também sou o outro com quem me encontro; e quando é assim o respeito mutuo prevalece.

Você acha que hoje em dia existe união de grafiteiros entre si? E pixadores e grafiteiros por exemplo? Acha que há limitações de alguns pontos de vista ou aspéctos?
Sinceramente, não sei… Não importa a “profissão” ou a “ocupação” que cada um se devota, no final é tudo pessoas e interesses; me diz, qual o teu interesse nessa entrevista?

Desde que você começou, até agora, o que mais mudou e o que continua na arte de rua, em sua opinião?
Talvez a comunicação. (internet e por ai vai…).

É possivel viver da sua arte, ou você tem que batalhar por fora também?
Orra, eu vivo… Arte pra mim é ter poesia no coração e nas ações, mas sempre to batalhando por fora e também por dentro; a vida é batalha.
Procuro fazer meu melhor (seja lá o que for isso?!)… Requer persistência e convicção na ação e que vai rolar, com fé na caminhada as coisas acontecem!

Quais os prós e os contras de viver de arte?
No momento só vivo, fazendo o que julgo necessário. W. (ivav os ivav).

O que você acha que um bom artista de rua precisa ter, para ser bem sucedido em seu meio?
Cada um procura uma coisa; ser bem sucedido é relativo demais! Uns buscam dinheiro, outros paz interior, outros os dois, (se é que possível…) Outros sinceramente num sei… Besteira minha ficar falando isso ate… Num rola de falar o que é melhor pro outro, cada um sabe o que vive; a cara é agente começar a mudar nois, pra influenciar o meio em que vivemos se juntando pra fazer coisas positivas.

Qual época você mais curtiu dar roles? Porque?
Curto a que passou, a atual e que esta por vir.

cena7 - São Bernardo Graffiti Bomb

Na sua opinião, o que é Graffiti?
Escrever-pintar na rua, conquistar paredes… E quem conquista num pede licença.

Qual o pior erro para um grafiteiro?
Sei naum… rs Cada qual sabe de seu erro, eu sei dos meus, e são vários, assim como são os acertos.
Em algum aspécto de sua vida, você arrepende ou já se arrependeu por ser grafiteiro? Porque?
Não. Num vivi coisa alguma que não fosse da própria vida, to firmão.

O quê a arte de rua te deu?
O que mereci.

O que a arte de rua te tirou?
O que mereci.

O que você diria para os que estão começando agora?
Comecem; seja o que for que seja positivo.

Deixe um recado pra quem estiver lendo sua entrevista, se identificando ou não com a sua arte…
Faça por amor e desconfie de desejos embutidos colocados por outdoors, comercias e derivados a isso, a mídia em sua grande maioria é golpista.
Salve salve maloquerage!!!